terça-feira, 28 de setembro de 2010

ao que eu não sei

eu achei que nunca ia acontecer com a gente.
eu achei que era possível evitar.
eu achei que não ia ter coragem.
eu achei que depois ia ser diferente.
eu achei que não ia sobreviver.
eu achei que ninguém podia me ajudar.
eu tô achando que o sofrimento não vai acabar nunca.

o que me consola é que eu não sei de nada.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

ginástica (ou how many laps to go)

quando eu era pequena estudava numa escola super engajada em esportes e educação física. na época, a gente chamava de aula de ginástica.

todo semestre, a nossa avaliação da ginástica incluia exame biométrico (terrorismo infantil, assunto pra outros posts e sessões de terapia), e outras medidas objetivas de desempenho: quanto tempo você conseguia ficar equilibrado em cada um dos pés, olhando para cima; subindo em um banco, em pé com as pernas esticadas, voce devia se alongar com as mão tocando os pés, e mediam quantos centímetros além dos pés você conseguia ir (para alguns essa medida era quantos centímetros faltavam até os pés); quantos abdominais você conseguia fazer em um minuto; e a mais pesada de todas, que era quanto tempo você levava para correr 1 kilometro.

essa medida era feita na quadra maior, de baixo de sol. você tinha que dar 11 voltas ao redor da quadra, externamente à marcação da quadra de handball, e passando por trás das traves do gol. as diversas salas da mesma série competiam pelo melhor resultado de grupo. então, tinha uma criatura de outra sala contando suas voltas, para garantir que você não ia "roubar", e a contagem de voltas era acompanhada também por uma criatura da sua própria sala pra garantir que o aluno da outra sala não ia te sacanear. a coisa era séria.

eu lembro da terrível sensação de calor e cansaço. cada volta completa não parecia uma vitória, porque eu ia ficando cada vez mais cansada. parecia um castigo que não acabava nunca. lembro de achar aquilo tudo desnecessário, desumano, injusto. lembro da vontade de desistir. de parar e sair chorando. mas acabava continuando pra não desapontar os colegas de sala e pra não ser tratada como café com leite. era isso que me fazia continuar. eu não gostava de correr, não me preocupava em fazer um tempo x ou y, não tinha satisfação pessoal pelo ato de competir, nem era motivada pelo sentimento de auto-superação. eu seguia mesmo pelo time. pelo amor das outras pessoas.

hoje é meu aniversário. isso quer dizer que eu completei mais uma volta ao redor do sol.

eu ainda não achei um grande objetivo de vida. não gosto de me testar e me superar, não acredito na cultura do sofrimento purificador. não entendo direito o que é que a gente vem fazer aqui. mas continuo tendo brios pra não ser chamada de café com leite. e continuo vendo que o único sentido de completar essa bagaça é mesmo obter o amor dos outros.

obrigada a todos que estiveram do meu lado e me deram amor nesta minha longa sequencia de voltas ao redor do sol.


segunda-feira, 20 de setembro de 2010

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Garibaldo

não é fácil manter tudo em ordem. a casa, a saúde, os compromissos, tudo mais. estou em franco movimento de tentar manter o que sobrou. da casa, da saúde, da vida toda. estou jogando fora o que ninguém quer mais. tentando achar um novo dono pro que pode ser reaproveitado. estou limpando, lavando, consertando, reformando o que está em uso.

nesta última categoria estavam as almofadas de casa. precisavam de um bom banho. algumas precisavam de um ziper novo. outras de um remendinho. uma das minhas preferidas, a de nózinhos de retalhos amarelos, estava precisando de tudo isso. fiquei na dúvida se valia a pena ou não me dar ao trabalho.

daí pensei nos bons tempos em que ela era conhecida como Garibaldo. companheirão. parceiro. amigo Garibaldo. participava de ensaios musicais, esbórnias de vinho, festas de família, visitas de nenês e avós. estava nas fotos ao nosso lado, ao lado dos alegres convivas, ao lado dos irmãos de passagem, vindos de terras distantes. acordava enlaçado por amigos desnorteados que capotaram no sofá e mal se lembravam onde estavam.

tomei o cuidado de costurar o que precisava antes de mais nada. depois liguei o ciclo suave da máquina de lavar. mas não teve jeito, não. despedaçou-se em centenas de retalhos amarelos. não resistiu. recolhi suas penas-retalhos tom sur tom e coloquei-as no lixo, junto com o desmantelado resto da peça.

no prosaico ato de amarrar o saco de lixo me vi num momento que se encheu de sentido. estou no meio de escombros. roupas, objetos e lembranças. ao despedir do Garibaldo tive medo de nunca mais conseguir olhar as fotos e, pra não sofrer mais, acabar apagando da memória todo o tempo que se foi.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

much better...

parece que a iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada à morte por adultério, vai escapar da morte por apedrejamento.

"o veredicto relativo aos casos extraconjugais foi revogado e está sendo revisto," disse o porta-voz do ministério à TV.

Pelo que tudo indica eles estão revendo a barbaridade da execução por apedrejamento, e então decidiram que ela deve morrer enforcada. Que peninha que as fogueiras em praça pública sairam de moda. Soooo fourteen hundreds...

...


Não sei onde o mundo vai parar com esses moderados maricas tomando conta do poder.

domingo, 5 de setembro de 2010

a day in life

a gente não saberia dar valor pra alegria se não existisse o sofrimento. isso parece fácil de compreender. o mais doido pra mim é entender que a gente tem que achar um jeito de fazer os dois conviverem. a gente tem que achar espaço pra criar e sentir alegria, apesar do sofrimento (e este último é mais certo e garantido na vida da gente).

ontem foi um dia de sofrimento ruim. sofrimento pra caralho. sem fim. sofrimento sem esperança de passar. mas não sei nem como explicar, foi também um dia de alegria, porque eu tinha meus amigos comigo. eles deram um jeito de me obrigar a me sentir feliz, mesmo na presença da dor e da falta, mesmo sabendo que isso tudo ainda está longe de acabar.

ainda bem que eu tenho um monte de gente pra amar. meus amigos me fizeram sentir gratidão pela vida. mesmo e apesar de tudo.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

que carro é esse? é um daitan...

a honda fez recall do meu fit.
recebi a cartinha e fui lá. nem olhei do que se tratava.
- oi, trouxe meu fit pro recall.
- vai trocar o interruptor central?
- hmmm. acho que sim. eu recebi essa carta aqui, ó...
- isso. é isso mesmo. o da senhora ja tá dando curto?
- hãn?
- é que a honda chamou o recall porque tava dando curto. dai tem risco de pegar fogo.
- e o senhor sabe se teve bastante carro que pegou fogo?
- olha, moça. bastanteS, assim, eu eu acho que não teve não. mas a gente ouve falar que uns e outros pegOU...

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

are you ready, boots?

start walking!



These Boots Are Made for Walkin'
Nancy Sinatra, 1966

You keep saying you got something for me
Something you call love but confess
You've been a'messin' where you shouldn't 've been a'messin'
And now someone else is getting all your best
Well, these boots are made for walking, and that's just what they'll do
One of these days these boots are gonna walk all over you

You keep lyin' when you oughta be truthin'
You keep losing when you oughta not bet
You keep samin' when you oughta be a'changin'
What's right is right but you ain't been right yet
These boots are made for walking, and that's just what they'll do
One of these days these boots are gonna walk all over you

You keep playing where you shouldn't be playing
And you keep thinking that you'll never get burnt
Well, I've just found me a brand new box of matches

And what he knows you ain't had time to learn
These boots are made for walking, and that's just what they'll do
One of these days these boots are gonna walk all over you

crueldade

às vezes ele ficava de saco cheio de trabalhar muito e ter que pagar tudo. a mulher ganhava muito mal porque passava a maior parte do tempo por conta dos filhos. trabalhava meio período só. ele achava muito poderosa a mulher do vizinho, advogada fudidona que ganhava uma fortuna. admirava essas mulheres mais descoladas que investiam em suas carreiras. the grass is always greener ele pensou. mas uns dias depois percebeu-se sentindo um doce sabor de vingança quando viu o mercedes da bonitona do 23o. saindo da clínica de fertilidade assistida.