quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

VERDE MAR DOS OLHOS DELE


Tinha olhos pequenos e pernas compridas. Se jogava na água e pegava jacaré até beeeem no rasinho. Apertava os olhos ardidos de sal e sorria com a boca grande.

As vezes ficava sozinho na areia e via os meninos maiores entrando pra surfar. Achava legal que eles punham a mão na água e faziam o sinal da cruz.

Um dia arrumou uma prancha azul, sabe-se lá onde. Era azul? Não importa. O que importa é que ele ficava de pé, equilibrado nas pernas compridas, e aquilo era bom demais. Nem via o tempo passar.

Pena que logo a prancha se espatifou na areia. Da prancha foi um pedaço azul pra cada lado. Do menino dos olhos pequenos foi um caldo e um cotovelo ralado. Foi assustador pensar em perder as ondas.

Nem passou na cabeça pedir mais ajuda da vó e do vô.

E aí aprendeu uma coisa pra vida toda: o que quisesse, teria que conseguir sozinho. 
E assim foi.

Juntou seus brinquedos e rifou. Fez questão de levar os prêmios na casa da menina sorteada. Foi a primeira vez que viu uma menina chorar de alegria. Não entendeu direito e pensou que meninas eram estranhas, mas gostou muito que ela deu um beijo nele.

Não queria nunca mais ter uma prancha partida pelas ondas. Comprou uma prancha difícil de quebrar, e nunca mais parou de surfar.

Coitada da menina que ficou com o coração partido. 
Ele nunca mais voltou pra buscar outro beijo dela.