sábado, 3 de abril de 2010

sobre páscoa, família e o que é sagrado

eu lembro que na minha época de escola existia a 5a feira santa. a gente tinha um dia a mais no feriado da páscoa. eu sempre viajava com a minha família. meus pais faziam jejum na sexta feira, só tomavam água o dia todo. daí minha mãe preparava uma ceia pra eles comerem depois da meia-noite. bacalhau com leite de côco, servido com arroz branco. se a gente estivesse no camping, o arroz nunca era soltinho, porque minha mãe usava uma panela muito grossa que tinha lá no trailler, e o arroz ficava meio papa.

no sábado não acontecia nada de especial e no domingo eles escondiam ovos de páscoa pra mim e pro meu irmão. mesmo depois de grandes, adolescentes, jovens adultos, a gente ainda brincava de fingir surpresa e abraçava os nosso pais, pedindo a eles que agradecessem o coelho por nós.

e sempre a gente almoçava junto. se minha vó estivesse com a gente, o almoço tinha alguma coisa mais religiosa-católica, tipo umas palavras dela sobre a ressurreição de jesus e um pai-nosso. senão era mesmo um almoço de família, que em sua raiz já é religioso. estar com os seus faz a pessoa se sentir parte de alguma coisa maior no mundo. a família ajuda a gente a se ligar no passado e no futuro. dá uma ídeia de continuidade da vida. é a vida eterna da história da gente, mesmo depois que a gente se for. pelo menos é assim a minha sensação de sagrado e religioso.

esse ano está cada um pra um lado. eu tenho coisas de trabalho pra fazer e não achei muita disposição pra viajar e estar com a minha família de origem. hoje faz seis meses que eu me separei do paulão e desde então eu sinto que não tenho mais família pra olhar pro futuro. pode ser de um jeito meio torto, mas agora eu vejo que faz sentido o casamento ser um sacramento. os termos da vida cotidiana não servem pra explicar o que a gente sente quando tem uma família. a certeza de ter um lugar ao qual você pertence é mesmo da alçada da transcendência, como compete aos atos sagrados, dentro de qulaquer que seja a religião.
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3 comentários:

giacca, synbad, tchuca... disse...

sil, adorei o comentário sobre família e o que é sagrado. realmente, quando a gente está em família, dá uma sensação de proteção, de que tudo está sob controle, mesmo quando há coisas não tão bem resolvidas na família. é mesmo "nossa conexão com o passado e com o futuro". e o que a gente sabe sobre o futuro, hein? eu so sei que tenho agora uma sobrinha, que acaba preenchendo lacunas que eu nao sabia bem como completar. e assim vai a vida. viver é uma sequencia de desafios, não é mesmo? bjs.

mélis disse...

killer post. lindo,lindo.

"estar com os seus faz a gente se sentir parte de alguma coisa maior no mundo", eu lembrei de um dia no apê, eu vc e o Alberty falando sobre como a turminha era uma familia. S2

e ah.. adoro arroz papa ;) mas jejum, dona mamy?

Duda Camargo disse...

Quando o Ia e Vinha virar livro, eu acho que esse post devia entrar primeiro.
Aí, quando a Veja perguntar nas páginas amarelas "por que você decidiu publicar os posts fora da ordem cronológica?", o mínimo que eu espero é que você diga "ah, foi uma sugestão do Duda, do Onde Eu Tava Mesmo"...