quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O Corvo

Meu amigo estava falando que gosta de filmes que não explicam demais as coisas. Gosta de idéias soltas no final pra gente poder imaginar o que vem depois.

Eu fiquei pensando que eu também gosto de imaginar o que vem depois. Mas que tem outra coisa que eu gosto muito, que é quando o final é mesmo quando tudo acaba. Como num conto-de-fadas.

A gente não fica imaginado nada que vem depois, mas tem a chance de ir e vir mil vezes no looping recursivo infinito da história. É como um poema, que não pode ser falado em outras palavras. Tem que usar aquelas mesmas, sempre daquele jeito. E daí a gente pára pra ficar saboreando uma ou outra idéia. E cada vez a gente pára onde a gente quer ou onde a gente precisa.

O Edgar Allan Poe escreveu um poema sensacional, que o ainda mais sensacional Fernando Pessoa traduziu para o português com o nome O Corvo. É lindo de morrer. De morrer mesmo. E tem atmosfera de fantasia, de história mágica. E eu gosto também por causa do título, porque algumas pessoas que eu gosto me chamam de corvo por causa do meu mau humor, mas isso é outra história.
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O fato é que hoje fui reler original e versão. Caí no vai e volta da história que acaba mas deixa a gente pensando nela. Hoje a historinha na minha cabeça ficou mais ou menos assim:

"O cara está sofrendo de abandono quietinho no canto dele. Ouve um barulho na janela e, após a insistência, deixa entrar o corvo. A presença da ave se impõe, e mesmo sombria aplaca-lhe a solidão. Pra daqui a pouco lhe incomodar. E mais pra frente só lhe servir de lembrança de que só a solidão é perene. O que passou não volta. Nunca mais."

O bichinho ronda e faz sombras longas no chão. Fica ali para lembrá-lo: nunca mais! E cutuca-lhe a ferida. O pobre foi deixar entrar o corvo ao invés de aprender de uma vez por todas que acompanhado a gente fica, mas sozinho a gente é.
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6 comentários:

calenza disse...

Não foi feito nenhum comentário até agora, até agora!
batman ou botão dos buttom? fica com os 2
bja

mélis disse...

eu vou fechar a janela pra não te deixar sair.

Plinio Bolognani disse...

Eu gosto de filme de guerra.

E eu tenho uma coleção de corvo aqui, que vêm de um em um me visitar... só minha irmã que não vem!!

Silvinha disse...

alguns corvos não devem visitar ninguém, nem sair de casa... pra não espalhar mau agouro e mau humor...

sagel disse...

eu quero você aqui... sempre... meu corvinho preferido.... que me faz botar meus pés no chão, para não me machucar demais... I need you! na sua versão corvo e na sua versão boboleta! Love you!

©carmen zita disse...

"O pobre foi deixar entrar o corvo ao invés de aprender de uma vez por todas que acompanhado a gente fica, mas sozinho a gente é."

Bem pensado.
Gostei da sua visita lá no quarto que sente. Na verdade o oceano que separa os nossos países também nos aproxima.
Apareça mais vezes.