quarta-feira, 4 de março de 2009

o corredor X a salinha

sabe o que que era época boa? mas boa meeeesmo?

era a fase que eu e meus amigos estávamos no começo da carreira. ninguém ainda tinha dado certo na vida, mas existia uma certa esperança e uma certa chance de que a gente ia virar alguma coisa. estávamos semi-encaminhados, mas lá no final da cadeia alimentar, por assim dizer.
todo mundo meio em cargos de peão, ocupando o espaço do corredor, mas cheios de gás, cheios de idéias. e de brilho. a gente tinha que por a mão na massa, trabalhar pra valer, às vezes tinha algum pepino que só a gente sabia resolver. principalmente se era alguma coisa no computador. logo eu! a estagiária recém-formada era obrigada a passar a noite refazendo o trabalho deles porque nenhum dos fodidões sabia nada! na-da! só tinha mané naquele lugar...

foram várias altas horas fazendo trabalho braçal. mas sem muita responsabilidade. sem ter que decidir nada. só cumprindo as ordens que vinham do cara lá da salinha. ah! que longos cafés a gente tomava naquele corredor reclamando que alguém tinha dado tanta coisa pra gente fazer! o que que eles estavam pensando? por que não decidiu antes que era pra fazer do jeito B e pediu o jeito A? sabe come é chefe, né? chegou lá por pura politicagem, mas é uma anta.

só que naquela época, quando a gente ia pra casa, não levava nenhuma preocupação. a gente era feliz e quase não sabia que era depois do trabalho no corredor que a vida mostrava seu lado mais doce: sentar no bar com todo mundo e reclamar de o quanto o mundo era injusto por a gente não ter a grana e o tipo de trabalho que merecia! na boa, fora a gente, só tinha imbecil no mundo! a gente era a promessa. a solução. a genialidade bruta e incompreendida.

a gente passava noites e noites juntos no bar, inconformados com a incompetência e a mediocridade dos nossos chefes. se quem manda não fosse tão medíocre, nosso talento já teria sido revelado! é que aqueles adultos, sentados nas suas salinhas, insistiam em fazer tudo errado. não sabiam nem usar o excel e vinham mandar a gente, que estava naquela mesinha improvisada no corredor, refazer todo o trabalho que eles mesmos tinham pedido. e nem falavam inglês direito! como é que um despreparado desses virava chefe? a gente não entendia.


até que um dia a gente ganhou uma salinha qualquer, um crachá escrito aspone, um pouco mais de grana e muito, mas muito mais responsabilidade. e o compromisso de fazer acontecer no mundo real, nem que tivesse que ser medíocre. a gente aprendeu que o que funciona é o arroz com feijão, desde que seja no prazo e dentro dos critérios estabelecidos.

e em troca a gente abriu mão da nossa cabeça fresca no final de semana, do nosso tempo livre pra tomar longos cafés ou infinitas cervejinhas no bar. e quer saber o pior de tudo? a gente teve que abrir mão de talvez ser genial. e teve que parar de ficar só reclamando pelos corredores. o mundo não é justo mesmo.
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3 comentários:

Duda Camargo disse...

Mas olha que mundo pequeno... A gente começou trabalhando no mesmo lugar e eu nem sabia!

Plinio Bolognani disse...

MAs veja por outro lado.

E as pessoas que viram todo mundo indo pra salinha, e ainda continua no longo café e nos bares, reclamando de como a vida é inusta??

Thunderstorms, dreams and conversations disse...

Esse meru corredor tá longo...
bisou