domingo, 17 de maio de 2009

Moral

Você sabe o que é certo e o que é errado? Você se sente na obrigação de fazer o que é certo? Se não está escrito em lugar nenhum, você deixa de fazer o que quer porque aquilo é errado? Quem define isso aí hoje em dia?

Claro que lei é lei. Mas há coisas sobre as quais não se legisla. O que determina aqueles valores morais e éticos, que deveriam estar acima dos interesses imediatos e zelar por um bem maior?

Antigamente as religiões cumpriam esse papel de forma bem mais eficiente, acho eu, através de instituições terrenas mais poderosas. Acontece que, pelo menos entre as pessoas que tem alguma instrução e liberdade de pensamento, as instituições de regulação moral estão cada vez mais desacreditadas. Nossa moral se constrói em grupos cada vez menores. E os valores éticos passam a ser sustentados por posições cada dia mais individuais, e apesar do grupo ao qual pertencemos. EU faço assim porque EU acho certo.

E aí é que mora o perigo, porque a nossa auto-indulgência pode ficar proporcional ao tanto que a gente admite sair da nossa zona de conforto. O conceito de sacrifício perdeu totalmente o glamour hoje em dia, e me parece que as pessoas vêem cada vez menos motivos que o justifiquem.

A moral, que deveria ser reguladora de foro íntimo, limita-se agora ao espaço público, onde ainda há algum resquício de compromisso com o olhar alheio dentro do grupo. E isso nem vale o tempo todo, porque em última instância o olhar do outro nem importa tanto assim. Ele nem tem tanta moral. Temos todos o rabo preso.

A gente não gosta de quem faz tudo certinho e é super coerente consigo. O olhar dessa pessoa sobre as nossas vergonhas ainda nos incomoda. Quem aguenta incoveniente merece ser ridicularizado, porque ele é o cara que sofre com as regras que ele mesmo impôs. Ele se leva muito a sério! A gente não tem mais paciência pra acreditar que impor regras pra si mesmo faz algum sentido.

Eu tomo banho demorado. E não desligo a água enquanto estou me ensaboando. Dizem aí que vai acabar a água doce do planeta, mas eu pago minhas contas e banho quentinho é tão gostoso.
Eu jogo bituca de cigarro na rua. Entope os bueiros, polui os rios, dá mau exemplo pras crianças, mas é que eu não gosto do cheiro de cigarro apagado dentro do carro.

E os limites vão-se afrouxando cada vez mais. Nossos argumentos vão ficando cada vez mais racionais e imediatos. A regra geral devia ser não faça com os outros o que você não quer que façam com você. E trate o mundo da forma que você gostaria de ser tratado.

É! Mas se ninguém cumpre o que é certo, quem quer ser o único trouxa a se sacrificar? Quem é que sai ganhando com isso?

Moral de malandro é a conveniência.

Porque sem medo do juízo final e sem a promessa da bonança no after hours, o que se quer é tirar da vida tudo que dá pra levar agora.

Só que tem uma ou outra hora que a gente olha um pouquinho pra frente e vê que a vida é curtíssima, e esse corpo é uma casquinha. Então a gente tem medo é de ficar velho ou frágil por qualquer motivo. E daí ter que contar com a moral alheia.

É a eterna culpa judaico-cristã. Essa sim é enraizada.
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4 comentários:

Mia Sílvia disse...

Acho que foi o Quintana que disse: Velhice é como uma conta bancária: você só retira o que depositou.
Portanto, be carefull!

Love U.

Anônimo disse...

É Ia!
A moral é esta mesmo, dizer o que incomoda os outros é complicado e "imoral", mas acho que vale porque assim sabemos e fazemos o que pensamos...o chato é sempre aquele que diz o que pensa e faz o que dá vontade sem dar "moral" pros outros!
Bisous et à biêntot!
Fabi

giacca, synbad, tchuca... disse...

caraca, fiquei até sem saber o que dizer... essa foi profundo...

mélis disse...

Esse post é tipo uma aula né?
maravilhoso. fudido.