eu lembro que na minha época de escola existia a 5a feira santa. a gente tinha um dia a mais no feriado da páscoa. eu sempre viajava com a minha família. meus pais faziam jejum na sexta feira, só tomavam água o dia todo. daí minha mãe preparava uma ceia pra eles comerem depois da meia-noite. bacalhau com leite de côco, servido com arroz branco. se a gente estivesse no camping, o arroz nunca era soltinho, porque minha mãe usava uma panela muito grossa que tinha lá no trailler, e o arroz ficava meio papa.
no sábado não acontecia nada de especial e no domingo eles escondiam ovos de páscoa pra mim e pro meu irmão. mesmo depois de grandes, adolescentes, jovens adultos, a gente ainda brincava de fingir surpresa e abraçava os nosso pais, pedindo a eles que agradecessem o coelho por nós.
e sempre a gente almoçava junto. se minha vó estivesse com a gente, o almoço tinha alguma coisa mais religiosa-católica, tipo umas palavras dela sobre a ressurreição de jesus e um pai-nosso. senão era mesmo um almoço de família, que em sua raiz já é religioso. estar com os seus faz a pessoa se sentir parte de alguma coisa maior no mundo. a família ajuda a gente a se ligar no passado e no futuro. dá uma ídeia de continuidade da vida. é a vida eterna da história da gente, mesmo depois que a gente se for. pelo menos é assim a minha sensação de sagrado e religioso.
esse ano está cada um pra um lado. eu tenho coisas de trabalho pra fazer e não achei muita disposição pra viajar e estar com a minha família de origem. hoje faz seis meses que eu me separei do paulão e desde então eu sinto que não tenho mais família pra olhar pro futuro. pode ser de um jeito meio torto, mas agora eu vejo que faz sentido o casamento ser um sacramento. os termos da vida cotidiana não servem pra explicar o que a gente sente quando tem uma família. a certeza de ter um lugar ao qual você pertence é mesmo da alçada da transcendência, como compete aos atos sagrados, dentro de qulaquer que seja a religião.
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