quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Eu acredito em Lei Seca

(mas não tenho habilitação)

Depois da onda de prender bêbados que houve há alguns meses, não tenho mais ouvido falar muito de policiais fazendo blitz na noite de São Paulo.

Mas eu acredito! Acredito e obedeço.

Não exatamente como a Velhinha de Taubaté, que realmente conseguia crer que tudo estava certo. Eu mais obedeço pelo medo de ser punida, mesmo. Confesso. 'Obedecemos aquilo que tememos', dizia alguém ontem no bar, citando Maquiavel.

Meu medo de ser pega numa blitz é ainda agravado pelo fato de que minha carteira de habilitação está vencida há mais de um ano. Shame on me! Não tem desculpa, eu sei. Mas tenho trabalhado muito e, juro, no meu tempo livre eu só quero fazer o mínimo possível. Estou me permitindo essa transgressão. Sou péssima! I know.

Com isso tudo, acho que eu tento ser menos culpada cumprindo a lei seca à risca. Minha idéia tosca é que se eu 'andar na linha' posso ser um pouco subversiva de vez em quando. Sei lá, se o Al Capone tivesse mantido a linha e pago uns reles impostos...

Enfim, o fato é que passei a noite tomando coca zero. Os amigos curtiram suas cervejinhas e 'mauses', e eu sóbria como um terno de tweed. Voltei pra casa com a mente clara e sem ressaca. Ao atravessar a Paulista, tive só um pouquinho daquele frio na barriga de quem sabe que está fazendo coisa errada. Eba! (Pensei.)
...
Depois me pergunto se não seria mais inteligente pular de paraquedas ou brincar de roleta russa na montanha russa pra conseguir essa adrenalina...

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2 comentários:

mélis disse...

Eu não sou redatora, nem elite cultural... mas eu acho que vc tá escrevendo cada dia mais bonito!

Silvinha disse...

PRA QUEM NAO CONHECE A VELHINHA DE TAUBATÉ:

O grampo da velhinha

Luis Fernando Veríssimo

Como se sabe, existe uma velhinha em Taubaté que é a última pessoa no Brasil que acredita. Ela acredita em anúncio, acredita em nota de esclarecimento, acredita até nos ministros da área econômica. Depois que foi localizada, a velhinha de Taubaté, coitada, não teve mais sossego. Todos os dia batem à sua porta querendo saber que canal ela está olhando, que produto ela está usando e se a explicação do governo sobre o último escândalo foi convincente. Ela sempre diz que foi. Algumas agências de publicidade estão incluindo no seu approach de marketing um ``Velhinha Factor``, ou a questão: isto passa pela velhinha? Muitas entidades públicas e privadas mantêm a velhinha sob constante observação. Fala-se mesmo que existe em Taubaté uma unidade médica em prontidão permanente, exclusivamente para atender a velhinha em caso de mal súbito ou escorregão. Há uma convicção generalizada de que, quando a velhinha se for, tudo desmoronará. A boa saúde da velhinha interessa tanto ao governo quanto à oposição responsável. Se ela morrer - ou deixar de acreditar -, teremos o caos, que não convém ao projeto político de nenhum dos lados. Quando o Tancredo e o Figueiredo se encontrarem e um perguntar como vai a saúde, não estará se referindo nem ao outro, nem ao Aureliano. Estará falando da velhinha de Taubaté. Só a velhinha de Taubaté nos separa das trevas.

Por isto, segundo o Correio Braziliense, o SNI decidiu intensificar sua vigilância sobre a velhinha e um agente disfarçado de funcionário da companhia telefônica bateu à sua porta, há dias. Foi a própria velhinha, um pouco irritada com as constantes interrupções do seu tricô e do seu programa na TV, quem atendeu.

- Quié?

- Vim consertar o telefone.

- Eu não tenho telefone.

O agente pensou com rapidez.

- Vim instalar o telefone e depois consertar.

- Mas eu não comprei telefone nenhum.

- Deve ser presente de alguém.

- Quem me daria um telefone de presente?

- Alguém que está tentando ligar para cá e não consegue.

A velhinha acreditou. Mas pensou um pouco e decidiu:

- Se ele já vem estragado, eu não quero.

E fechou a porta. O agente entrou em contato com seus superiores. Recebeu instruções para adotar o Plano de Contingência B. No dia seguinte bateu à porta da velhinha vestido de mulher e apresentando-se como divulgadora de produtos de beleza. Apesar do bigode e da barba, a velhinha acreditou. Deixou-o entrar e enxotou um gato de uma poltrona para ele sentar.

- Estamos lançando uma linha de grampos para o cabelo e queremos que a senhora seja uma das primeiras a experimentar.

- Mmmm. São grátis?

- Absolutamente grátis. Só há algumas condições. A senhora precisa usá-los o tempo inteiro. Menos no banho, porque se molhar estraga o
transmis... Estraga o grampo.

- E se eu quiser comprar depois de experimentar, posso?

- Pode.

- Quanto custa cada um?

- Dez mil dólares.

- É um pouco salgado...

A velhinha está usando os grampos o tempo inteiro, menos no banho e todas as suas reações estão sendo gravadas e mandadas para Brasília, para análise. Houve um momento de suspense quando a velhinha, em conversa com um gato, expressou algumas dúvidas sobre o caso Capemi. Mas as dúvidas passaram e a velhinha voltou a acreditar na versão oficial. Sua pulsação é firme. Sua digestão é boa. Fora uma pequena artrite, nada ameaça sua saúde. Ainda temos algum tempo antes do caos.

em: Novas Histórias do Analista de Bagé